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PRIOR NOGUEIRA

“Esteve ligado à fundação e direcção da Corporação dos Bombeiros em 1925, à construção do Salão Paroquial (chegou mesmo a trazer madeira de Gemeses gratuita), foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fão, Juiz da Irmandade do Bom Jesus, fundou a Cruzada Juvenil e foi ainda Vereador na Câmara Municipal. Dinamizou e incentivou a sociedade fangueira, de tal forma que marcou uma época e um povo que nunca o esqueceu e ainda venera com contornos de santidade.”



Este texto havíamos escrito, há quase 2 anos, poucos dias antes de se assinalar os 50 anos da morte do Padre António Alves Nogueira, Prior de Fão, onde esteve como pároco durante 36 anos.

Com os outros fundadores dos Bombeiros
Claro que, para além deste grande dinamismo, apego e dedicação à terra de acolhimento, como sacerdote foi um exemplo inesquecível, de grande humanismo, sempre pronto a ajudar os mais carenciados, um verdadeiro pastor que se dedicou de corpo e alma ao seu rebanho – o povo de Fão.

Esse mesmo povo, que mais tarde o homenageou com o nome de uma rua no centro da vila, curiosamente a mesma rua, na altura chamada de Álvaro Castelões, onde ele viveu um dos momentos mais atribulados em Fão, decorria o ano de 1920 e grande parte da população, não aceitando a exoneração do anterior pároco Luís de Azevedo, o recebeu a tiro.

Reza a história que a freguesia estava dividida entre republicanos e monárquicos, e por alguma eventual conotação com uma das partes, por parte do Padre Azevedo, este foi exonerado pelo Arcebispo de Braga, após 16 anos à frente da paróquia fangueira. Isto foi mal aceite por um grande número de fangueiros, que rejeitaram a nomeação do Padre António Alves Nogueira, natural de Gemeses (Setembro de 1919) e a própria Junta de feição republicana, fechou as portas da igreja, .
Antigo salão paroquial
impedindo qualquer culto religioso na igreja A freguesia foi anexada religiosamente a Fonte Boa, mas o abade desta freguesia nunca conseguiu sequer celebrar missa em qualquer das igrejas de Fão.
Isto foi-se prolongando durante quase um ano até que a 2 de Abril de 1920, o Padre António Nogueira, então com 33 anos (nasceu a 28.10.1887), foi chamado para realizar o funeral católico de uma senhora chamada Delfina Costa Campos, tendo recebido o aval e promessa de protecção do administrador do concelho José Abreu, a quem ele consultara.

Encheu-se a rua de partidários de ambas as partes divergentes e muito curiosos na expectativa, para assistir ao funeral que saía de casa da defunta, em frente a antiga casa da Mimi Ramalho. Dois republicanos, dirigiram-se ao pároco e disseram-lhe que a maioria da freguesia não o reconhecia como prior de Fão. Questionando a autoridade destes cavalheiros, eis que o regedor, segundo algumas crónicas Joaquim Samaritano, desatou aos tiros, tendo havido resposta do lado contrário e o tiroteio causou um enorme tumulto, vários feridos e a fuga do prior. Só 2 anos depois o Prior Nogueira, viria a tomar posse, aos 14 de Junho de 1921.


Busto na Alameda do Bom Jesus
Foi a coragem e perseverança do Padre António Nogueira, a primeira arma para demover e inverter em grandes amigos muitos dos seus antigos opositores, mas muito mais foi a enorme capacidade de enfrentar grandes desafios, liderando e incentivando à realização de grandes obras na freguesia, como foi o caso da fundação da Corporação dos Bombeiros logo em 1925, da qual foi o primeiro Presidente da Assembleia Geral. Depois veio a construção do Salão Paroquial, o “salão do Senhor Prior” como se dizia, já que mobilizou toda a população na recolha de meios, na participação da própria obra e ele próprio conseguindo muitos materiais a suas próprias expensas ou de patrocinadores que conseguiu arranjar. Foi ainda Provedor do Hospital, Juiz da Irmandade do Bom Jesus, Vereador da Câmara, Conselheiro Municipal e Presidente da União Concelhia.

Mas se foi o notável o seu trabalho para bem da terra, da comunidade e sua qualidade de vida, o Prior Nogueira teve o grande mérito de voltar a reunir um rebanho com muitas ovelhas tresmalhadas, pois Fão voltou-se a unir depois de muitos anos de grandes polémicas, ódios e confrontações.
Muitas das suas acções passavam pelo anonimato, ajudando e aconselhando cada paroquiano mais necessitado e era capaz de dar a sua própria roupa para agasalhar um pobre, um exemplo de verdadeiro seguidor de Jesus. Por isso e muito mais, o povo tinha uma enorme adoração pelo seu Prior, que foi adoecendo nos anos 50 e quando regressou depois de uma estadia nas Termas do Caramulo, para convalescer a população fez-lhe uma recepção inesquecível e comovente em 1956. No entanto, pouco depois deu-se a sua fatal recaída que culminou no falecimento a 25 de Janeiro de 1957. Embora ainda não tivesse nascido eu e muitos da minha geração, aprendemos a admirar o Prior Nogueira, pela fé, devoção e dedicação de orações, promessas, romagens ao cemitério de Gemeses onde está sepultado e histórias contadas pelos nossos pais e avós.

O cemitério de Gemeses, sempre foi um local de peregrinação de muitos fangueiros, que muitas vezes em grupo vão até lá a pé orando em sua homenagem, depositando no seu túmulo flores, velas e garrafas de azeite.
Fão soube reconhecer ao seu Prior a sua dedicação e para além de lhe atribuir o nome de uma rua, que no passado foi das mais movimentadas e animadas de Fão, também lhe eregiu um busto na Alameda do Bom Jesus.

O ano passado a 25 de Janeiro, foi realizada uma Missa em sua homenagem na Igreja Matriz de Gemeses e outra no dia 27 em Fão seguindo-se uma romagem ao Cemitério Paroquial de Gemeses, onde o Prior Nogueira está sepultado. Também a Cooperativa Cultural de Fão para assinalar a passagem dos 50 anos do seu falecimento, organizou uma palestra a cargo do Prof. Joaquim Peixoto, que encheu por completo a sua sede.

Se há homem que merece que o seu nome seja perpetuado, o Prior Nogueira é inquestionavelmente a personalidade mais marcante do século passado, em todas as latitudes da nossa sociedade.

Dirão alguns, que talvez a rua não esteja actualmente à altura do homenageado, pois como outras no centro da nossa vila, como que se descaracterizou, perdendo a alegria, das muitas pessoas e crianças que nela habitavam e actualmente sem qualquer estabelecimento comercial. Pois ainda não vai longe o tempo, em que nela havia um Banco (confluente com a Rua Padre Gonçalo Viana), Loja de tecidos (Virinha Cubelo, Fátima Graça,), Fotógrafo (Guimarães), Electrodomésticos (Irmãos Pereira), Vitão (componentes para sapatos ou botões?) e Padaria Fontes (parte das traseiras), que me lembre…