
Quando falamos de Turismo da Natureza apontamos normalmente 4 vectores estratégicos: conservação da natureza, desenvolvimento local, qualificação da oferta turística e diversificação das actividades turísticas.
O nosso concelho tem recursos naturais bastantes para enquadrar esta modalidade de turismo no seu plano global de desenvolvimento, segmentando as actividades que dispõem de equipamentos adequados e incentivando as organizações vocacionadas para a animação.
Os desportos náuticos e em especial a canoagem, que no nosso concelho assenta a sua actividade num quadro competitivo elevado, dispõem de 3 postos náuticos construídos de raiz, movimentando largas dezenas de crianças e jovens.No entanto, a vertente de lazer não tem merecido a atenção que se podia esperar numa zona de turismo com algum potencial, que tem assentado a sua actividade na venda de dormidas e alguma restauração. Os Clubes existentes privilegiam a vertente competitiva e os seus recursos também não facilitam a sectorização, por serem reduzidos e também pouco vocacionados para outras opções, concentrando os esforços nos resultados desportivos.
Os rios Neiva e Cávado têm características endógenas que permitem organizar descidas em canoa com perfis diferentes, favorecendo a educação ambiental com circuitos interpretativos integrados nos percursos, promovendo dessa forma o património natural e cultural dos espaços visitados.
O conhecimento e fruição desses valores naturais, sendo um dos objectivos do turismo da natureza, contribuem de forma clara para a atracção de turistas e visitantes, que desta forma satisfazem as expectativas decorrentes da sua permanência na região.
A canoagem de Lazer tem merecido nos últimos tempos alguma atenção embora em iniciativas avulsas de algumas empresas de animação.
A possibilidade de utilização das infraestruturas existentes no concelho poderá não ter a melhor receptividade dos Clubes, orientados nesta altura para a vertente competitiva, como já referimos.
O actual Posto Náutico de Fão é a infraestrutura mais bem dimensionada para albergar uma nova organização de cariz municipal ou não, orientada para o Turismo da Natureza, que incluiria o pedestrianismo, a orientação, a bicicleta todo o terreno, rappel, circuitos interpretativos integrados, passeios fluviais, descidas de rios, exercendo assim uma complementaridade transversal com outras formas de turismo.
Quando se falou estes dias na Assembleia de Freguesia na opção dee transferir a prática competitiva da canoagem para uma nova infraestrutura a construir junto à Pousada de Juventude, a candidatar em breve ao Polis-Litoral, ficamos com uma ideia sórdida de que o Posto Náutico construído de raiz será para demolir.
A actual localização do Posto Náutico, pese a sua baixa cota que o torna por vezes imperceptível ao passante (um aspecto positivo de enquadramento e impacto), foi estratégica no contexto da animação turística. Na passagem para os hóteis ou perto deles, o Posto Náutico passou desde a sua construção, a ser um espaço na oferta de opções ligadas ao rio, direccionada aos potenciais mercados holandeses e nórdicos que tinham há 15 anos uma forte apetência por este produto. A própria Comissão Regional de Turismo do Alto Minho ofereceu na altura canoas de lazer, tendo em conta a necessidade de dotar a infraestrutura náutica com os equipamentos adequados que pudessem responder às frequentes solicitações. O Clube Náutico de Fão entendeu na altura que lhe cabia um papel importante na atracção de turistas e visitantes, promovendo o recreio e o lazer com o reforço de canoas de turismo, investindo nessa área em coletes e disponibilidade de monitores, conseguindo assim uma animação notória sobretudo nos períodos de Verão.
Estrategicamente colocado, foi muito solicitado também por Escolas do Norte e Centro do país, que agendavam as descidas do Cávado , nelas participando dezenas de jovens que estabeleciam o contacto com a natureza em ambiente de pretensa aventura, sem que o Clube se desviasse dos objectivos de rendimento competitivo que constavam do seu plano de trabalho.
A falta de memória das razões que objectivaram a sua construção pode trair uma medida política, se ela contemplar de facto a demolição.
Fão necessita de optimizar os seus recursos em que se inclui o Posto Náutico e reforçar com mais infraestruras a zona que o separa do antigo Hotel do Pinhal, onde já existe um pequeno campo de futebol que, curiosamente, anima aos fins de semana algumas dezenas de pessoas. Movimentar esses espaços era uma medida importante para a dinâmica local, tendo em conta as actividades a desenvolver, de carácter lúdico, manifestamente salutares e que poderiam interagir com outras iniciativas. O Posto Náutico transformar-se-ia em Centro Náutico e de Lazer, servindo também como infraestrutura de suporte a essas actividades. Idealista?
Curiosamente a preocupação em restringir a construção de qualquer infraestrutura ou pretender demolir alguma já existente, só parece existir em relação à parte sul do rio, condicionando o desenvolvimento turístico e social de uma Vila que vai reduzindo o seu padrão de importância, pese o facto de a sua população apresentar crescimentos por aumento de residentes.
As políticas redutoras não interessam a Fão e têm de ser contrariadas, contrapondo ao ritmo de construção o aparecimento de infraestruturas compensatórias que incentivem a inserção dos novos residentes, cativem os visitantes e criem mais dinâmica.
A descentralização na área da animação, poderá passar pelo desenvolvimento do turismo da natureza e do turismo activo geridos por uma equipa dependente de empresa municipal, agindo no futuro a partir do edifício do Posto Náutico, sede operacional com localização estratégica. Seria um bom princípio e o evidente sinal de mudança de comportamento político, manifestamente centralizador, tendência natural de quem governa ou gere.
É que ao devolver-se a Fão o papel importante que lhe cabe, sairiam beneficiados os rácios de desenvolvimento de um concelho pequeno mas com potencial de crescimento e afirmação, que teima em centralizar-se.