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Entrevista com um fangueiro "Caça Tempestades"

Há já algum tempo, que vínhamos através das redes sociais, seguindo com curiosidade alguns apontamentos e registos de fotos tiradas durante tempestades, o que sempre achamos uma grande e temerária aventura, que nunca ousaríamos fazer. Quando descobrimos que um fangueiro, o Igor Vale, era um destes entusiastas/apaixonados "caçadores de tempestades", mais interessados ficamos e tentámos saber um pouco deste seu hobbie/paixão. Deste modo, e já numa segunda tentativa, especialmente espicaçados pelas fotos expostas na sua página do Facebook, tiradas na Praia de Fão, voltamos à carga, desta vez com uma pronta resposta, para uma entrevista mais completa, que aqui partilhamos com os nossos leitores, ilustrada com algumas das suas fotos.

O Igor Fonseca Gomes do Vale, filho dos nossos antigos colegas no Hotel do Pinhal Lourdes e Bernardino, nasceu em Fão e tem actualmente 41 anos de idade, sendo licenciado como professor do ensino básico, variante de educação física e exerce profissionalmente a actividade de Treinador de Ténis.

Novo Fangueiro- O Ténis e a tua Escola desta modalidade, é a tua única actividade.
Igor Vale - "A principal, pois também sou cantor lírico."

NF- Para além das viagens para fotos de tempestades, que outros hobbies tens?
Igor Vale,- " Os principais são mesmo cantor lírico e caçador de tempestades, apesar que considero ser um hobbie tudo o que fazemos por gosto, portanto posso dizer que só tenho hobbies na minha vida."

NF- Como surgiu esta paixão pela fotografia de intempéries, onde e até onde te levaram?
Igor Vale- "A minha paixão por eventos meteorológicos severos foi surgindo ao longo do tempo.
Em tempos, uma escritora alemã, disse-me que este meu interesse pelo poder da natureza se devia a uma necessidade de nos sentirmos grandes, ao lado de fenómenos desta dimensão. Na minha opinião, ao contrário de me sentir grandioso, sinto-me minúsculo ao lado de uma tempestade, um vulcão, uma montanha. Por vezes, simplesmente não há necessidade de o explicar, mas sim vivê-lo.
A meteorologia severa tem sido aquela que mais me faz viajar. Seja no meu carro, por Portugal e Espanha, como para os locais onde esses fenómenos são mais intensos. A fotografia veio em seguida. Pois, para além de observar, podia registar. Com a ajuda do meu primo Lúcio Viana e o amigo Armando Jorge, consegui compreender um pouco mais sobre fotografia e vou conseguindo alguns registos."


NF- Com que frequência o fazes e locais onde já estiveste...
Igor Vale- "Sempre que há previsão de tempestades com trovoada e eu tenho disponibilidade, pego na máquina fotográfica e sigo caminho. Normalmente é uma viagem sem destino. Se alguma estrutura apresentar condições de se prolongar no tempo e espaço, a viagem continua até Espanha.
Normalmente vou sozinho ou acompanhado do meu primo Hélder Fonseca.
Aqui na Europa, estes fenómenos verificam-se mais durante o verão. No “Tornado Alley” (corredor dos tornados) nos Estados Unidos da América, Abril, Maio e Junho são os meses em que se observam maior número de tempestades extremas. Em 2015, enquanto seguia online vários caçadores de tempestades nos Estados Unidos da América, descobri um grupo português. Achei curioso, pesquisei e percebi que afinal não era só nos filmes que as coisas aconteciam e que era possível ir lá também.
Durante alguns anos (sobretudo após 2015) fui-me instruindo um pouco mais relativamente à análise e previsão meteorológica e, em 2017, fui ao famoso “Tornado Alley” com outro fangueiro (a viver em Boston, EUA): Dário de Jesus.
Encontrámo-nos em Dallas e fizemos uns milhares de quilómetros à “caça”. Não tivemos muita sorte nos dias em que lá estivemos mas, no último dia, fomos presenteados no estado do Texas com uma bela estrutura com muita atividade elétrica.
Foi o aperitivo para, em 2023, voltar lá, como o grupo ExtremAtmosfera (liderado pelo caçador Bruno Gonçalves). Um grupo de 7 pessoas com este gosto “extremo”, com um pouco de loucura à mistura. Cerca de 8000 kms pelas planíces americanas (Colorado, Kansas, Oklahoma, Texas…) durante 10 dias."


NF- Nunca temeste pela exposição às tempestades ou locais onde fotografaste?
Igor Vale- "Se deveria ter medo destas tempestades? Porventura sim. Mas é algo que não acontece.
Se, por exemplo, evitamos conduzir pelo meio de uma supercélula (tempestade mais severa que existe), não é por medo mas sim por prevenção. Porque podemos ser atingidos por granizo de grandes dimensões (maiores que uma bola de ténis), ventos ciclónicos, etc. Portanto, temos sempre tudo minimamente estudado de forma a conseguirmos atingir os nossos principais objetivos, em segurança: observar e fotografar estas tempestades magníficas. E, para isso, é necessário nos posicionarmos na “parte de fora” da tempestade propriamente dita. Obviamente que, por vezes, algo pode falhar, mas, até agora, nada demais aconteceu."


NF- Conta alguma experiência mais extraordinária, assustadora ou divertida que tenhas tido.
Igor Vale- "Uma das experiências que mais me marcou foi estar a observar uma tempestade que se dirigia na minha direção. Para se ter a noção do que ali acontece, basta deixar a máquina a fotografar em time lapse que a atividade elétrica é de tal forma intensa que algum relâmpago ficará registado de certeza.
Como retrata a foto anterior, é um espetáculo de “fogo de artifício” incrível. Mas, quando as descargas estão relativamente perto, a segurança está acima de tudo e o aconselhado é abandonar o local. Neste caso, dentro de um veículo estamos em segurança, devido ao efeito gaiola de Faraday.
São muitas as experiências, algumas engraçadas, que vivemos numa aventura deste tipo. Uma delas, dentro da carrinha, observamos dois “dust devils” (remoinhos de vento formados por convecção do ar) ao nosso lado. Abrandamos a marcha, abrimos a porta da carrinha para fotografar e, literalmente, milhares de mosquitos entraram, “empurrados” por estes dois fenómenos. Escusado será dizer que estes minúsculos mosquitos entraram por todos os orifícios da cara de cada um de nós.
Algo extraordinário é observar a formação destas tempestades, quase do zero, ao início de cada tarde, a uma velocidade incrível. Algo que não se observa muito por cá. E, depois de se formarem, ver as nuvens a ganharem “vida própria”, a ganharem dinâmica, algumas com rotação. São verdadeiros monstros no céu, como podem ver em seguida."


NF- Como tens informações quando e onde podes encontrar as condições que te agradam?
Igor Vale- "Quanto à previsão destes fenómenos, são muitos os sites e aplicações que hoje em dia temos acesso. Uns mais técnicos que outros. Mas, com o cruzamento dos vários modelos, conseguimos obter uma boa previsão. Previsão que aumenta a probabilidade de estarmos no sítio certo, à hora certa, para os observar e para nos posicionarmos com o máximo de segurança possível.
Mas, mesmo com estas previsões, podemos sempre falhar. A diferença entre nos deslocarmos para uma tempestade a Este, que já apresenta uma boa estrutura e não irmos para Oeste para uma outra célula ainda em evolução, pode significar termos ou não êxito (ver ou não um tornado, etc.). Mas, é necessário arriscar um pouco. Por exemplo, nos EUA, estivemos em conversa com um dos maiores caçadores de tempestades do mundo (Reed Timmer), que também vai falhando muitas das suas escolhas. Mas que, por também arriscar ir para um lado em detrimento de outro, já observou cerca de 700 tornados. Daí o nome “caça às tempestades”. "


NF- Em Portugal e em Fão, já conseguiste algumas fotografias interessantes, queres falar de alguma em particular ou local específico.
Igor Vale- "Em Portugal, lembro a noite de 31 de Maio de 2020 nas Caxinas, junto à marina da Póvoa de Varzim, em que, na companhia de um pescador, fui presenteado com um festival incrível de fogo de artifício que vinha exatamente na nossa direção. Descargas a atingir o mar, muito perto de embarcações piscatórias.
Já na nossa terra, em Fão, na zona da restinga, na noite de 8 de Setembro deste ano, estive 4 horas a contemplar o que ia passando pelo mar, na esperança de conseguir um registo de um relâmpago e das torres de Ofir, na companhia do Hélder Fonseca. "


NF- Tens algum local ou circunstância que ainda ambiciones fotografar?
Igor Vale- "Os relâmpagos são o que mais me fascina em todas estas tempestades. E na Venezuela existe um local onde se verifica a maior atividade elétrica do planeta, o chamado “relâmpago do Catatumbo”. Este fenómeno acontece na foz do rio Catatumbo, no lago Maracaibo. Cerca de 160 dias por ano, 10 horas por dia, observa-se uma incrível atividade elétrica. Este é um dos locais que ambiciono visitar, num futuro próximo."

NF- Já expuseste fotas tuas? Ou estarias disposto a fazê-lo?
Igor Vale- "Gostava de expor fotos minhas destas aventuras. É algo que penso fazer mas, antes disso, pretendo reunir mais registos em algumas viagens. A próxima será em 2024, novamente ao tornado Alley."

NF- Imaginando que alguém a ler esta tua entrevista, sentisse um apelo para fazer o mesmo, que lhe dirias?
Igor Vale- "Para quem partilhar este gosto “radical” e tiver interesse em vivenciar um pouco destas atividades, poderá entrar em contacto comigo."

Jose Belo
josebelo2000@sapo.pt

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