Entre os investigadores, tem sido comummente aceite que o topónimo Fão deriva do termo latino “Fanum” que como se sabe, quer dizer Templo. Tem fundamento lógico, a possibilidade de existência dum templo ou lugar de culto nesta povoação; só que mais nada se infere desta asserção porque nem sequer nos chegou qualquer inscrição lapidar romana que o ateste.
Pensamos que Fão, situada na Foz dum rio, é uma povoação antiquíssima, naturalmente anterior à chegada dos Romanos à Península e por tal temos de procurar por via indirecta a razão deste topónimo centrando-nos no período pré-romano antes portanto do Sec. III a.C.
Em meu entender, o topónimo deriva da palavra grega “Phanós” que quer dizer facho ou farol, pela razão óbvia de que nesta localidade se encontraria um importante luzeiro que como se sabe é indispensável à segurança da navegação sobretudo num local com extensas aberturas ao mar atlântico quer pela Foz do Cávado, quer pelas praias, algumas semeada de baixios.
A favor desta tese, verificamos que, sobranceiro a Fão embora no concelho de Barcelos, se encontra o Monte do Facho donde se avista praticamente toda a costa e as elevações mais significativas do interior e, mais chegado a Fão na arriba fóssil, o Monte do Faro ou farol que tem o mesmo exacto significado.
Por outro lado a tradição da existência do Facho manteve-se até ao presente na denominada Casa do Facho junto à capela da Senhora da Bonança, edifício do Sec. XVI a que se apuseram mais tarde as armas Reais Joaninas. O brasão da Freguesia também tem o Facho como figura falante central.
A raiz da palavra grega “Phanós”, vem do egeu “Wanu” que quer dizer Filha do Céu de que deriva o nome da deusa Vénus ou a “Stela Maris” a Afrodite nascida da espuma do mar, guia dos navegantes. O cavalo era um dos seus animais sagrados e Posidon o deus masculino correspondente – será essa a origem do topónimo Esposende e não o Espanusindi romano que dá Espessande no concelho de Paredes do Douro e também na Galiza?
Na lógica desta tese verificamos que à entrada de Fão embora no concelho da Póvoa de Varzim se encontra a povoação da Estela com capela dedicada a Nossa Senhora da Estela que não é mais que uma sobreposição ao culto pagão anterior, como acontece com os oragos S. Félix. S.Paio, S. Fins e Santa Marinha. Esse mesmo culto poderá ter existido no local da actual capela da Senhora da Bonança mais concretamente na Casa do Facho, só que não o sabemos.
Esses cultos antigos são de facto a par de registos documentais, a chave para o reconhecimento dos povos e etnias que habitaram o território desde a mais remota antiguidade e por tal estão actualmente a ser desenvolvidos estudos nesse sentido na peugada de investigadores do princípio do século.
Faro vem de Pharu a divindade dos Fariseus representada por um Bovino que era o seu “Totem”. Estes Fariseus, provenientes da Pérsia, na opinião do investigador Arq. Ilídio Araújo terão saído da Faixa de Gaza após a invasão dos Filisteus, refugiando-se na Península Hispânica. Estes povos terão chegado ao nosso território depois dos Caineus ao longo da fase do Bronze Médio. Quer Heródoto, quer Plínio e Estrabão falam de assentamentos gregos no Norte da Península.
A língua grega e os dialectos associados do oriente médio eram a língua dominante no Norte Peninsular antes da romanização na opinião desse investigador pelo que será natural o afloramento destes topónimos como Apúlia que é também de origem grega e por isso anterior à conhecida “Vila Menendiz”, perto da Bouça do Engenho, importante Vila Romana no termo da Apúlia que permaneceu com relevância até à Idade Média a ponto do Nosso primeiro Rei lhe ter dado carta de Couto. A Branqueta dos Sargaceiros assim como o seu Sueste poderão ser resquícios do traje romano ou eventualmente até anterior a este.
A Vila de Fão com um topónimo único no país embora possa haver outros com origem semelhante, é a meu ver, uma terra povoada desde a mais remota antiguidade e não um obscuro núcleo piscatório que nasce na Foz do Cávado com a romanização. Penso que muito há ainda a estudar nestes domínios para decifrar as nossas mais remotas origens. Haja quem com saber e proficiência o faça, deixando aos curiosos estas simples achegas!
Expressões relativamente recentes como por exemplo o termo “Fangueiro” que aliás dá nome ao jornal e ao afamado restaurante da D. Rita, como natural ou habitante de Fão, não tem a meu ver fundamento etimológico e por tal pode induzir em erro quem o ouça. Seria natural retomar a antiga designação de Fãozense aliás aposta no tímpano do Clube centenário. Fangueiro é relativo a Fanga que como se sabe é uma medida de cereal ou de cal correspondente a 4 alqueires e fangueiro também quer dizer fueiro que como se sabe é o pau de encaixe nos carros de bois e também parte da barriga do cavalo. Com cavalos (os de Fão), já estamos em casa, daí talvez se justifique a expressão e por isso deixemos que ela persista “ad perpetuam rei memoriam”.
João Goulart de Bettencourt
Estoril, 20 de Julho de 2012