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As Crónicas do Zé ...

Desembarque de tropas inglesas e combate na praia de Fão

A lancha armada "Nossa Senhora das Areias", também conhecida por “La Buenadicha”, era uma “vasca” corsária comandada pelo capitão galego Manoel Malvares. Havia saído de La Guardia no dia 13, "com ânimo de corsar", tal como tantas outras daquela região, que na altura infestavam a costa norte de Portugal, à espera de uma oportunidade para assaltar e rapinar os navios ingleses que saíam do Porto.

No dia 14 de Maio de 1805, “La Buenadicha”, foi avistada por alturas de Vila do Conde e imediatamente perseguida por uma escuna de guerra inglesa. Para se furtar ao perseguidor, acabou por entrar precipitadamente na barra de Esposende, sob o pretexto de fazer aguada e mantimentos; mas na verdade, com o intuito de se acoitar no estuário do Cávado.

Como tinha entrado sem o prático da barra a bordo, sem passaporte e sem cartas de saúde, o Juiz de Fora de Esposende foi obrigado a mandá-la pôr de quarentena e a proibir terminantemente a “vasca” de subir o rio e a ter de ficar obrigatoriamente ancorada junto ao Cabedelo, perto da barra, até novas ordens.

O Juiz de Fora, António Garcez Pinto de Madureira, logo que tomou conhecimento da inesperada entrada desta embarcação armada em guerra, imediatamente se preparou para se deslocar a bordo dela «com oficiais da casa e alguns moradores da terra». Porém, quando já se encontrava no meio do rio, avistou uma outra embarcação carregada de gente armada, que parecia dirigir-se à barra e logo deduziu serem ingleses que vinham no encalço dos espanhóis.

Como era de calcular, o bote inglês acabou por ver-se em sérias dificuldades, dado que os seus tripulantes ignoravam totalmente as condições práticas para entrar na nossa perigosa barra e assim, inevitavelmente, acabaram por encalhar violentamente num banco de areia, tendo sido a embarcação logo virada pela força de uma vaga de mar que fez com que toda a gente que nela vinha, fosse atirada à água.

Ao ver aquele naufrágio, o destemido Juiz Madureira, correu logo à praia e arriscando-se pelo mar dentro, conseguiu salvar o oficial inglês que já boiava desmaiado, depois de ter sido largado dos braços de um dos seus soldados. Enquanto isto, apareceu outro bote inglês «carregado de gentes, que entre todos seriam 24 e estes do segundo, armados e misturados com os do naufrágio, tentaram perseguir os espanhóis aos quais chamavam traidores».

Perante tais intenções manifestamente bélicas, o Juiz tentou persuadir os ingleses a não entrarem na barra e a acatarem as leis internacionais que permitiam que fugitivos pudessem permanecer dentro do porto, por 24 horas, ameaçando-os de que daria parte ao governador das Armas e que actuaria segundo a sua decisão, se eles ousassem entrar e atacar os espanhóis. «Altercaram na sua língua», mas o irredutível oficial inglês teimava em forçar a entrada da barra e ir rio acima queimar a “vasca” espanhola. O Juiz, tentava persuadi-lo a esperar as 24 horas legais, findas as quais os espanhóis, seriam obrigados a sair a barra « e depois que fizessem o que quisessem».

Serenados temporariamente os ânimos, os ingleses regressaram à escuna, mas ficaram a pairar na Cala, à espera da presa. Sem demora, o Juiz deslocou-se a Viana do Castelo, para pedir socorro ao Governador das Armas, tendo este assumido que lhe mandaria uma força de 54 homens. Mas as tropas «somente apareceram passados dias» e o intrépido Juiz de Fora, que se havia metido na água no primeiro dia «e de ter ido tratar com o General da Província, na noite do acontecimento e voltar na mesma», adoeceu.

Os ingleses, que se tinham afastado da costa, por causa do temporal, tornaram a aparecer no dia 18, dando sinal da sua presença com um tiro de canhão. Como ninguém lhe respondesse, «deitaram um bote fora» e vieram em direcção à praia, do lado de Fão, à procura da barra. Mal puseram pé em terra, atiraram uns tiros de mosquete «talvez para fazer sinal à escuna de estarem ali os espanhóis, quási à barra».

Os espanhóis, ao ouvirem os tiros, procuraram munir-se dos seus meios de defesa que tinham e tomaram posições dentro da “vasca” que já se encontrava pronta para sair naquela maré. Logo que os ingleses desembarcaram, abriram fogo sobre eles «que escaparam de morrer por se lançarem na areia logo que viram fuzilar as armas dos espanhóis que estavam dentro da “vasca”.

Enquanto isto, «chegavam os nossos soldados que sossegaram os espanhóis que já se encontravam na areia, misturados uns com os outros» e os ingleses acabaram por partir. Eram os conturbados tempos das invasões francesas, com ingleses e portugueses de um lado e franceses e espanhóis do outro.


Notas:
Segundo O prof. de Arqueologia Naval Antón Pais Rodriguez,« Eran embarcacións adicadas ó comercio de cabotaxe (con patente de corso, isto é licencia do goberno) para atacar precisamente o comercio que os ingleses facían co Porto , e as veces conseguían traer algunha presa ás costas. Boa parte da burguesía de Vigo enriqueceuse con esta oportunidade e aquí e alá noutros pequenos portos aparecían xente que se animaban a probar fortuna » - Correspondência pessoal..
A.H.M. (Arquivo Histórico Militar- Digitarq) – DIV/1/13/20/36 – Ofício de António Garcez Pinto Madureira, Juiz de Fora de Esposende para António de Araújo Azevedo, sobre a perseguição feita por uma embarcação inglesa a um corsário espanhol que entro na barra daquela vila.
Idem, idem, idem
Passagem entre recifes, entre “os Cavalos de Fão” e o Cabedelo, uma zona funda, a oés-sudoeste da restinga. – o verdadeiro porto oceânico de Esposende.
A.H.M (Arquivo Histórico Militar), Idem, idem, idem

José Felgueiras


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Manuel Vieira
nevieira@sapo.pt

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