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As Crónicas do Zé ...

Os livros do «Chico Cubelo»

Há dias estive em Fão, numa visita à Igreja da Misericórdia, juntamente com frequentadores da Universidade Autodidacta de Esposende.
Fui servir de cicerone! E gostei, confesso...
Quem conheceu aquele templo há décadas atrás, como eu o conheci, espanta-se, é o termo, com a qualidade do restauro e adaptação a Museu daquele edifício sagrado, também ele marcante na história de Fão.
É mesmo caso para dizer, que a Misericórdia está um “brinquinho” e a Santa Casa e os fangueiros bem se podem ufanar daquela preciosa joia.
No terminus da visita, aproveitei para comprar a “Missa d’Alva” do meu amigo “Chico Cubelo”, que ainda não tinha e o “Fão antigo era assim”.
Li de uma assentada, aquela prosa vigorosa e viva.
O “Chico Cubelo” é mesmo um fangueiro dos quatro costados!... Aqueles retratos, pincelados na carne de humildes são no mínimo, um hino a Fão e à sua gente.
O Chico não conta “estórias” – recusa-se terminantemente a isso - conta histórias, como faz questão de frisar – da gente simples que a Santa Casa da Misericórdia ajudou dentro das suas possibilidades, nos sécs. XIX e XX. Ele pinta e descreve esses personagens com a energia e o rendilhado de quem conta uma lenda das antigas, das da sua terra. Carrega nos tons, espevita-lhes a habilidade e zurze com ironia sarcástica na sociedade e no seu farisaísmo. É (continua a ser) um verdeiro jornalista da história que conta aquilo que viu e conheceu; que se fundamenta nos documentos que traduzem a realidade nua e crua. Mantém os vocábulos e as alcunhas hoje desaparecidos ou a desaparecer. Cultiva a “raiz” de Fão! Homens do mar e da terra; ricos, remediados e pobres. As festas, os jogos ; a escola, a vida de criança ! E não esqueceu as figuras típicas, soberbamente descritas: Avelino, João da Teia, Lareco...O Chico Cubelo – há-de ser sempre o “Chico Cubélo”- prestou um grande serviço à comunidade fangueira, ao concelho, à cultura, ao escrever estes dois excelentes livros!!!.
Bravo Francisco!
Continua, Amigo !!! Claro que haverá sempre por aí um ou outro “Tostão Branco”, que desconfiará do que digo e comentará:
- Ó díã, um cuco d’Esposénde a dizer bem de Fãm !? Ócarai...
Mas deixa lá..... “môr” ...!

Para a História de Fão

D. Miguel I , que, como todos os reis, tinha um nome comprido, chamava-se: Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Evaristo; nasceu em Queluz em 26 de Outubro de 1802.
Ainda hoje há dúvidas se seria ou não o 3º filho varão do Rei D. João VI e da espanhola D. Carlota Joaquina de Bourbon. Era irmão mais novo do imperador D. Pedro I , imperador do Brasil , que depois veio a ser D. Pedro IV de Portugal.

Apelidado de " Absolutista" e " Tradicionalista", D. Miguel, foi rei entre 1828 e 1834 e pretendente ao trono português entre 1834 e 1866 Morreu na Alemanha, a 14 de Novembro de 1866, depois de ter sido banido, bem como os seus descendentes, da sucessão ao trono português
Logo no princípio das lutas Liberais, que duraram cerca de 6 anos , houve, como era normal, manifestações a seu favor pelos chamados “absolutistas”, que se opunham aos partidários da Carta Constitucional, de D. Pedro IV.
Em Fão, a primeira manifestação pública, foi organizada pelos Almotacés locais, que eram funcionários da administração concelhia responsáveis pela fiscalização dos aferimentos de pesos e medidas e tabelas dos preços dos bens alimentares e encarregados também da regulação da distribuição dos mesmos em tempos de maior escassez O cargo da Almotaçaria era ocupado mensalmente e era dependente do poder autárquico - vereadores, juízes e procuradores
Nesta altura, Fão pertencia ainda ao concelho de Barcelos, razão porque foi lá que “descobri” este interessante documento, elucidativo de como se passavam tais manifestações
Como isto se passou no séc. XIX, e como acabo de fazer uma incursão pelo Fão dessa época através dos livros do “Chico Cubelo”, faço questão em dar uma achega para a História de Fão, dessa altura.
Assim,

«ALMOTAÇARIA DE FÃO

Auto de aclamação a que se procedeu neste lugar de Fão, termo de Barcelos.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil, oitocentos e vinte e oito anos, aos cinco dias do mês de Julho do dito ano, pelas quatro horas da tarde, determinou o Juíz eleito e Almotacé deste lugar, de fazer uma grande aclamação legal a Sua Majestade o Senhor Dom Miguel Primeiro Rei de Portugal absoluto, cuja aclamação se fez na presença da veneranda efígie do mesmo Senhor que a trazia nos seus braços Lourenço Gonçalves Leite Ribeiro deste mesmo lugar, por todas as ruas no meio de um imenso concurso de habitantes e mais povo das vizinhanças deste lugar que todos à porfia se apresentaram nesta solene aclamação, acompanhada com música de rua e de repique de sinos e finda a aclamação se dirigiram todas as pessoas acompanhando e venerando a efígie, até à Capela do Senhor Bom Jesus a assistir ao Hino Te Deum Laudamos, dando graças ao Altíssimo por tão plausível acontecimento, prestando nesta ocasião o reverendo Reitor e mais Clérigos abaixo assinados.

E para constar, mandaram, ele Juíz eleito e Almotacé, fazer este termo, que todos assinarão comigo, Manuel José Cardoso Júnior, escrivão da Almotaçaria, que o escrevi e assinei,

O Juíz – António Pinto de Campos
O Reitor – Luís José Cardoso
O Eleito – António Pinto de Campos Brito
Lourenço Gonçalves Leite Ribeiro
O Juíz do Povo – Francisco Fernandes da Costa / uma cruz
O Almotacé – Manuel José Cardoso
Padre José Fernandes Pereira
Francisco José Leite Ribeiro
Joaquim Neves Costa
Licenciado Domingos Arnão Morêncio
Reitor Francisco José de Faria»
(AHCMB – Livro dos Registos das Leis e Ordens, cota 06-751, págs. 40v e 41)

José Felgueiras


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Manuel Vieira
nevieira@sapo.pt

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